quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A BELEZA

“A beleza é a religião dos que sabem”
(Um poeta hindu)

A vós que hesitais entre os caminhos divergentes das religiões, e vos perdeis nos vales das crenças contraditórias, e concluís que a liberdade da rejeição é mais proveitosa que a disciplina da submissão, e o inconformismo mais exaltante do que o tradicionalismo, a vós todos, digo: Adotai a beleza como religião e honrai-a como a Deus.
Manifesta-se ela na perfeição das criaturas e nas edificações da razão. Repeli os que representam a religião como divertimento e que consideram possível andar ao mesmo tempo no caminho da ganância e no caminho do bem. Acreditai na Divindade da beleza, que deu origem ao vosso gosto pela vida e vossa procura da felicidade. Arrependei-vos diante dela, pois é ela quem aproxima vossos corações do trono da mulher, reflexo de vossas emoções e guia de vossas almas no reino da natureza, vossa pátria suprema.
E vós, que vos perdeis na noite das conjeturas e que afundais no abismo das quimeras, sabei que há na beleza uma verdade que exclui a dúvida e uma luz que vos afasta das trevas do erro.
Contemplai o despertar da primavera e a chegada da aurora. A beleza pertence para quem a contempla.
Escutai o gorjeio dos pássaros, e o murmúrio dos ramos, e a melodia das fontes. A beleza pertence também a quem a escuta.
Observai a inocência das crianças, e a formosura dos jovens, e a força dos adultos e a sabedoria dos velhos. A beleza pertence a quem sabe observar.
Cantai os olhos que se assemelham aos narcisos, e os rostos que se assemelham às rosas e as bocas que se assemelham às anêmonas. A beleza se glorifica nos que a cantam.
Exaltai os corpos delgados como os ramos, e os cabelos negros como a noite, e os pescoços brancos como o mármore. A beleza gosta de ser exaltada.
Consagrai o corpo como templo da beleza e santificai o coração como altar do amor. A beleza recompensa os que a adoram.
Regozijai-vos por haver recebido da Divindade os dons da beleza e alegrai-vos, pois nada tereis a temer e jamais vos entristecereis.

Kahlil Gibran

sábado, 17 de outubro de 2009

Feliz Dia dos Professores!


Tive uma professora que dizia que toda classe que é inferiorizada na sociedade ganha um dia só seu. Por isso, segundo ela, é que há o dia da mulher, dia das mães, dia dos pais, dia das crianças, dia do trabalhador, entre tantas outras datas comemorativas.

De qualquer modo, a homenagem existe e, mesmo para aqueles que acreditam não haver nada a comemorar, deixo aqui meus parabéns (um tanto atrasado, pois, embora fosse dia dos professores, os meus não pararam de trabalhar) para todos aqueles que corajosa e orgulhosamente trabalham em prol da educação no Brasil.
Se servimos de escada para outras profissões serem possíveis, devemos tentar unirmo-nos cada vez mais para que essa escada possa ter muitos e muitos degraus, de modo que, por meio dela, todos possam subir cada vez mais alto.
Um abraço,
Stephania


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A professorinha e a Tecnologia

Eis que a besta assassina da Tecnologia mais uma vez assombra a sala da pobre professorinha. Presa pelos calcanhares à areia movediça da desatenção de seus alunos, a indefesa vítima do próprio despreparo afunda milímetro a milímetro chacoalhando os braços em desespero, competindo em sua irrelevância com celulares de última geração, lan houses tentadoras e convidativas oferecendo jogos hipnóticos capazes de subtrair anos inteiros da vida útil desses jovens e reforçar o estado de desesperança no futuro em que se chafurdam há gerações, tornando-os tão secos de cultura geral quanto qualquer vítima petrificada da terrível Medusa, mp3, mp4,5,8, vídeo games, janelas pop-up e outros vilões.
As tentativas anteriores de usar tais armas em suas classes resultaram em baixas significativas para a auto-estima da professorinha. Agora ela está atrasada com o conteúdo, porque passou aulas inteiras tentando fazer seu novo laptop funcionar, chamando o interesse apenas daqueles pequenos meliantes dispostos a encontrar uma forma de apropriar-se do brinquedo da professora, assim como já fizeram com dinheiro da sua bolsa. Por conselho da própria escola, seu laptop agora está seguro em sua casa, inútil, fazendo-se lembrar apenas por ocasião do vencimento das parcelas do financiamento, adiando consideravelmente o sonho da professorinha de descansar em sua casa própria. Por vezes, ela pensa se não compensará comprar algo de que possa desfrutar ainda depois de paga a última parcela, como um plano de auxílio funeral, por exemplo.
Quem será o destemido príncipe a salvar a coitada das trevas da obsolescência ? Estará o bravo cavaleiro entre seus mestres da graduação e pós-graduação? Lá, ela aprendeu a fazer a back-up e finalmente ver parte de seus projetos concluída. Também descobriu que usar um filme em sala não significava exibi-lo na íntegra para os alunos, consumindo duas aulas inteiras, que poderia trabalhar apenas com parte dele, usando os botões REW, FF, PLAY e PAUSE para selecionar tais partes na frente dos alunos. Na prática, ela também aprendeu que DVDs piratas são muito mais eficientes para tal serviço do que originais, que demoram para abrir o menu, justamente para que a gente fique a par de leis de direitos autorais que não nos interessam, e que a vida útil de um DVD usado em aula é muito curta. Para tanto, ela tem ajuda de uma colega de classe que cobra apenas $3,00 por DVD gravado, já que é para uma amiga, o que compensa mais do que usar seu próprio laptop para tanto, o que despenderia um esforço hercúleo da professorinha no sentido de APRENDER algo novo, o que realmente ela não tem tempo de fazer, afinal são trabalhos, monografias, leituras, tantas coisas necessárias para que ela realmente possa se considerar uma especialista no que faz...
Ainda assim, e apesar da tenra idade, a donzela ainda parece uma anciã ao lidar com tais tecnologias. Em comum com seus alunos, ficou o gosto por sites de relacionamento, em que ela pode ficar horas e horas esquecendo-se da tortura vivida diariamente, infligida por algozes que ela ainda não sabe quem são. Quando ela se desconecta do mundo rosa de seus perfis na net, ela volta a viver o pesadelo da vida real da sala de aula e ainda chama pelo príncipe encantado que virá salvá-la em seu cavalo branco, levando-a ao reino encantado onde não há blogs, twitters, msns, vírus, hackers, e-mails, e vivendo, como talvez já viva, feliz para sempre.

Kleber Garcia